A África e os africanos quase não aparecem nos livros escolares. Por isso pouca gente sabe que, na África, antes da chegada dos europeus, havia impérios e reinos organizados, como, por exemplo, o Império do Mali que tinha contato com povos de diferentes partes do mundo.
A África negra antes dos europeus
Na África ocidental, entre os séculos VIII e XVII, existiam vários povos negros-africanos, cada um com seu jeito próprio de ser. Alguns destes povos construíram impérios e reinos prósperos e organizados, conforme relatos da época. Vamos conhecer um pouco mais sobre o Império do Mali, localizado ao norte do Equador.
O Império do Mali
Há poucos registros documentais sobre a história do Mali, a maior parte deles produzidos por historiadores árabes. É portanto, um olhar estrangeiro sobre a África negra. Assim as principais fontes de conhecimento do Mali tem sido as histórias transmitidas pela oralidade, através de gerações, dos mais velhos aos mais jovens.
As fontes orais permitem-nos conhecer um pouco da história da África contada pelos próprios africanos. Hoje em dia, nos países onde antes era o Império do Mali, há muitas escolas que ensinam as tradições e a história deste poderoso império. Contam os africanos que, lá pelo início do século XIII, os malineses liderados pela família Keita rebelaram-se contra um rei que os oprimia. E, durante a guerra, pediram ajuda a um príncipe de nome Sundjata, que pertencia a família Keita, mas vivia longe da sua terra.

QUEM FOI SUNDJATA KEITA?
Sundjata era filho do rei Nare Keita. Desde seu nascimento foi muito franzino e sofria de paralisia nas pernas. Por isso, as outras esposas do rei zombavam de Sogolon Konde, mãe de Sundjata. Contam que, com a idade de sete anos, Sundjata foi curado milagrosamente. E, logo que conseguiu andar, tornou-se líder dos garotos de sua idade e muito admirado por ser ótimo caçador.
Todo esse prestígio acabou atraindo sobre ele o ciúme de seu irmão, que tinha assumido o trono desde a morte do pai. Por esse motivo, Sundjata, que à época já era um jovem, deixou sua terra levando consigo a mãe, a irmã e o irmão mais novo. Depois de muito caminhar, fixou-se em Nema, pequeno reino no delta do rio Níger. Lá foi adotado pelo rei, que não tinha filhos, e tornou-se um chefe militar respeitado.
E foi assim até que, certo dia, Sundjata recebeu mensageiros malienses que vieram pedir-lhe ajuda para lutar contra o rei que os oprimia. Sundjata atendeu ao pedido prontamente e, com soldados, cavalos, elefantes e armamentos recebidos de seu pai adotivo, partiu para a guerra.
A notícia da chegada do líder entusiasmou o povo do Mali. O comando geral do exército foi entregue a ele. A guerra foi difícil, mas Sundjata e seus homens venceram o adversário em 1235, na batalha de Kirina. Assim nasceu o Império do Mali, à frente do qual estava o príncipe general Sundjata Keita.
Segundo o historiador árabe Ibn Khaldun, que viveu naquela época, Sundjata foi o mais poderoso dos monarcas malineses.
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O Império do Mali ocupava o território da atual República do Mali, além de parte do Senegal e da Guiné. Muitos costumes malieneses foram ditados por sundjata keita . O Mali chegou a ser bastante populoso. No século XIV, durante o seu apogeu, possuia cerca de 45 milhões de habitantes.
O Poder de Sundjata
Depois de liderar a luta pela libertação dos malineses, Sundjta converteu-se ao Islamismo e foi proclamado mansa , título que entre os seguidores desta religião equivale ao imperador, Em seguida, acompanhado de uma embaixada, Sundjata visitou reinos vizinhos e informou-os que respeitaria as tradições e costumes de cada um deles. Depois, dividiu o território do império em províncias e escolheu governadores para cada uma delas.
A capital do Império foi fixada em Niani, no sul do mali. Sundjata Keita convidou para residir nela representantes de todas as províncias e das corporações de artesãos e mercadores. Duas grandes estradas partiam da capital maliense, uma que apontava para o norte e outra voltada para o nordeste. Nesta última, surgiram duas grandes cidades mercantis negras, Djenné e Tombuctu.
Tombuctu – a cidade dos 5 mil sábios
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Mesquita e Universidade de Sankoré em Tombuctu
Tombuctu tinha posição privilegiada, pois tinha um cais sobre o rio Níger. A cidade despontou no século XII, quando servia de ponto de chegada das caravanas que atravessavam o Saara vindas do Oriente. Inicialmente era habitada apenas pelos nômades do deserto, os tuaregues. Mas aos poucos, os malinenses passaram a ser maioria, e Tombuctu transformou-se numa cidade negra, passando no século seguinte a ser governada pelos senhores do Mali.
A partir de então, Tombuctu continuou prosperando e se tornou um dos mais importantes centros mercantis e intelectuais do mundo medieval. Segundo um relato da época,
“Em Tombuctu há muitos juízes, médics e letrados, e todos recebem bons estipêndios (salários) do rei, que tem grande respeito pelos homens de saber. Livros manuscritos têm ali grande procura e são importados (…). O comércio livreiro é aí mais lucrativo que qualquer outra espécie de negócio.
No fim do século XV, a cidade possuía cerca de 150 escolas, com milhares de estudantes vindos de diversos lugares. Tombuctu possuía também uma universidade, com unidades de ensino independentes, entre as quais estava a mesquita de Sankoré . Os professores eram bem pagos e dedicavam todo o seu tempo à pesquisa. Os alunos iniciavam seus estudos aprendendo a ler e a recitar as passagens do Corão, em árabe, Logo depois, ingressavam no ensino superior, onde deveriam aprender a ciência que o Islã dedicava. Na Universidade de Tombuctu, havia aulas de Direito, Gramática, Filosofia, Astronomia, História, Geografia e Religião. O ramo do Direito era o mais desenvolvido. Porém, o conhecimento produzido naquela universidade permaneceu restrito à elite africana. Não chegou a incorporar as línguas e culturas locais e, por isso, não foi acessível a maioria da população.
Por Cila Rocha – Bióloga; Pedagoga; Esp. História e Cultura africana e indígena.
MAESTRI, Mario. História da África negra pré-colonial. p. 29.
AMORIM, Eduardo. África essa mãe quase desconhecida, São Paulo, FTD ; 1997