O universo não é feito de átomos, ele é feito de histórias!
Para iniciarmos a nossa jornada, começamos com uma África de muitas histórias, uma oportunidade de conhecer a vida e as singelezas de pessoas muito especiais, pessoas consideradas pela sociedade ocidental como “os diferentes” por sua origem, seu tom de pele, seu fenótipo, suas escolhas.
Desejamos que este seja um verdadeiro encontro de saberes, que venha trazer lembranças e sentimentos das historias de vida e não podem ser apagadas pelo esquecimento e que permita um trançar contínuo de empatia, valorização e respeito.
Olhar para as Áfricas pela noção de comunicação poética é atentar para a circularidade, não somente um percurso em busca dos elementos fundamentais de sua linguagem (provérbios, escrita ideográfica, oralidade), mas um ato de relacionar o conhecimento da comunicação com os saberes tradicionais africanos e, ainda, estabelecer na contemporaneidade um paralelo entre as vidas que se constroem a partir de uma sabedoria ancestral enraizada e que se mantém fortemente no vínculo dos encontros.
Nas Áfricas, as histórias são contadas pelos djelis (griot em francês)”, palavra “Djeli” significa sangue, assim como o sangue circula pelo corpo, o griot circula pela sociedade. Os griots pertencem a divisão da casta Namakàlá, na qual os direitos e deveres são hereditários e referem-se a ofícios dentro da sociedade. Os Djelis são responsáveis por guardar e transmitir a história dos reis e de seu povo. Existem vários tipos de Djelis, mas todos são treinados na arte da fala desde a infância e entre eles existem os que exercem os ofícios de historiadores, poetas, músicos polivalentes, contadores de histórias, que cantam e tocam o Balafon, a Kora e existem também os djelis os caçadores.
Ao contarem histórias, contos e poesias, ao cantarem e tocarem, os Djelis educam e encorajam seu povo, alimentando a memória, a consciência e o coração daqueles que os procuram, como um baú que guarda uma sabedoria e um conhecimento acumulado em sua história e que tem como veículo a oralidade em seus fundamentos e tradições.
É preciso nascer griot para ser um e sua preparação é desde a infância, é um dever passado de pai para filho. A educação e a formação são responsabilidades da família e também de toda comunidade, a religião que seguem é uma mescla de islamismo com animismo e está totalmente inserida na sua formação, existe também o campo de iniciação, em que os homens passam por um período de provação. O ciclo de educação é dividido por períodos setênios (de sete em sete anos) sendo o primeiro com a mãe, o segundo com o pai, o terceiro na rua, aos quarenta e dois tem o direito a emitir a própria opinião e ao sessenta e três anos torna-se um transmissor.
A palavra para eles é sagrada e tem o poder de trazer a cura ou a perturbação, então, desde criança, o (a) Djeli aprende a usar seu poder, mantendo-se disponível para o outro, servindo-o com histórias, investigando genealogias, conduzindo e organizando festas, cerimônias, eventos culturais e assumindo diversas funções na sociedade. Engajado em valorizar e perpetuar as raízes do seu povo, seu papel
na sociedade, o griot é fundamental, pois fortalece a resistência cultural. Contudo o griot não exclui o estrangeiro, ao contrário, aproxima-se da cultura do outro para que o outro receba e conheça o que a sua tradição traz e o que lhe sustenta como um artesão da voz, o (a) Djeli tem um comportamento diferenciado na sociedade, pois o seu dever de guardar e transmitir a história de seus reis e de seu povo lhe atribui a missão de mantê-las vivas na memória e no coração do outro. Ao contar suas histórias resgata algo que com o passar do tempo pode vir a adormecer o legado dos antepassados, portanto, suas histórias não podem ficar guardadas e esquecidas, devem permanecer na ponta da língua e no coração daqueles que possuem a arte da palavra.
Santos; Fátima V.; 2010 – Contar histórias a partir da tradição do Griot.

Djeli Áfrika
Como um artesão da voz, o griot tem um comportamento diferenciado na
sociedade, pois o seu dever de guardar e transmitir a história de seus reis e de seu povo lhe atribui a missão de mantê-las vivas na memória e no coração do outro. Ao contar suas histórias resgata algo que com o passar do tempo pode vir a adormecer o legado dos antepassados, portanto, suas histórias não podem ficar guardadas e esquecidas, devem permanecer na ponta da língua e no coração daqueles que possuem a arte da palavra.
PEPE SYLLA – Um Artista Polivalente de família Griot.
Foi em uma família de djelis, que desde pequeno, Pepe Sylla aprendeu com seu pai os fundamentos e a arte do balafon. Mamadouba o colocava sentado junto aos seus irmãos para observar sua mãe, Djelifina cantar as história de sua gente, assim como faz até hoje, em cerimônias tradicionais Guiné Faré. Desde sempre, são assim criados os rebentos desta família, educados a amar o ancestral balafon.
Além de balafonista, Pepe Sylla é musico percussionista, Djembefola da orquestra de balafons Djelidenybalafola e dundunfola dos dunumbas( rodas de balé e tambor) de Conacri. Todos os fins de semana é convidado ilustre dos “Debadons” ( celebrções de casamentos) e o solista que conduz com o bote( instrumento típico desta cerimônia) os ritmos das festas Guiné Fare (festas e celebrações especialmente para mulheres).
Guiné Fare Uma extensa família ritmos da Guiné, a razão pela qual chamamos de ritmo da Guiné é a dança da mulher. “Guiné” é mulher e “Fare” é dança, na língua Sussu, proveniente da Guiné Conacri, na África Ocidental. Fundamentalmente são ritmos tocados em cerimônias de casamento ou em qualquer momento que traga felicidade. É quando as mulheres se reúnem para dançarem juntas. Guiné Fare é tocada principalmente com o bote (este tambor com a campana suspensa que marca as modificações rítmicas, chamadas e convenções) além do balafon e do djembe.
Mohamed Pepe Sylla é uma referência nesta linguagem e um grande artista convidado para conduzir estes ritmos em celebrações e classes de dança. Muitos que os conhecem em Matam, me contaram que são griots por terem crescido polivalentes e por terem sido educados a receber o merecimento de tocar o balafon somente após conquistar a arte de sua construção e afiná-lo no mesmo tom dos capítulos de sua epopéia.
